quinta-feira, 19 de maio de 2011

Livro digital sem imposto: #oremos

Para alegria dos leitores - e certo medinho das empresas responsáveis pelos e-readers nacionais - segue no plenário um projeto de lei que modifica a Política Nacional do Livro (PNL), instituída em 2003, que regulava, entre outras coisas, a tributação em cima dos livros importados. Ao contrários dos irmãos de papel, os e-readers ainda não são livres de tributação, apesar de a PNL "assegurar ao cidadão o pleno exercício do direito de acesso e uso do livro; fomentar e apoiar a produção, a edição, a difusão, a distribuição e a comercialização do livro; promover e incentivar o hábito da leitura; apoiar a livre circulação do livro no País; e capacitar a população para o uso do livro como fator fundamental para seu progresso econômico, político, social e promover a justa distribuição do saber e da renda". Oras, o e-reader não é um iPad, gadget dos sonhos de muita gente [meus!] que faz de tudo. Os e-reader servem para ler. E ponto. Todas as demais funções giram em torno da leitura e servem para auxiliar ou melhorar o aprendizado.

Se a iniciativa for aceita pela Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado, pela Câmara e, finalmente, aprovada, as empresas brasileiras que hoje correm atrás do mercado do livro digital terão que se cuidar. Hoje, ainda sai mais barato comprar o precursor dos leitores, o Kindle, da Amazon, pagando a tributação absurda de importação de eletrônicos do que comprar uma das versões brasileiras, como o Alfa, da Positivo. Mesmo a versão 3G, que possibilita a compra online de livros sem nenhum custo pela conexão, ainda sai mais barato, se não levarmos em conta os acessórios que costumam ser comprados juntos. Se a tributação cair por terra, o Kindle básico wi-fi sai por menos de 250 reais, sem contar o frete. A Positivo, hoje, consegue vender seu leitor por pouco menos que 700 reais, sem as vantagens que a Amazon oferece, de ter já um grande acervo em inglês. Se o medo não for o suficiente, some a isso a notícia de que a empresa americana deve desembarcar em terras tupiniquins no começo do ano que vem - provavelmente procurando aumentar o seu catálogo de livros em português.

Para nós leitores, pulos de alegria e figas para que o projeto de lei seja posto em prática! Para os e-readers brasileiros, muita corrida para alcançar o Kindle e conquistar os leitores daqui.


terça-feira, 17 de maio de 2011

Eu não sou um bandido sem alma

Eu tenho certeza que não nasci com tendências afanadoras, subtraístas ou qualquer outro neologismo que signifique tirar do coleguinha alguma coisa que não é minha. Mas é assim que o mundo digital, justo esse que eu amo tanto e colaboro tanto para o crescimento (subtraindo, assim, minha conta bancária), me vê. Audácia! Infelizmente, é assim que eles vão ver você também, querido entusiasta do livro digital, até que consigam inventar um jeito de proibir a pirataria (aquela que grita em alto e bom tom na Carioca) e ao mesmo tempo não irritar o bom consumidor que quer ler seus e-books em várias plataformas ou emprestar para outro amigo.

Sim, e porque não emprestar? Não é o que se faz com o livro físico? Junto com a imensa vantagem de não receber o seu livro cheio de orelhas, arranhado ou com cara de velho, vem também a desvantagem (não para você, caro leitor) de ele se multiplicar como uma ameba. Isso porque arquivos podem ser copiados, em vez de movidos, e não é nada bom para o mercado editorial se uma obra comprada se multiplicar despudoradamente por aí, afinal, os livros físicos só se reproduzem dentro da gráfica. Neste caso, você e o analfabeto funcional da Carioca que ganha a vida multiplicando Tropa de Elite antes do lançamento têm tudo em comum.

Por essas e outras que ainda não conseguimos compreender o mercado de livros digitais, e mesmo assim ele já está em cima de nós. Desculpe incomodar o silêncio da sua viagem, mas você, independentemente do DRM do seu livro (assunto para um novo post!), vai querer carregar o seu livro, comprado com o suor do seu trabalho, para onde for: tablet,  Kindle, PC, pendrive, afinal, ele é seu! Vai também querer emprestar ele para o coleguinha, afinal, é isso que se faz com um livro e, novamente, ele é seu, certo? Não, exatamente. Como achei muito bem colocado em outro post sobre o assunto, bloqueios como o DRM são dispositivos que fazem com que o legal seja muito mais complicado que o pirata, porque, convenhamos, baixar um livro pirata na internet é muito mais simples do que lidar com todas essas burocracias virtuais. Com isso, as distribuidoras de e-books acabam criando pequenos Gremlins que estariam felizes e dispostos a comprar um livro, mas dão de cara com os DRMs (a água) e resolvem piratear para salvar o que restava de paciência.

O mesmo aconteceu com a música, que agora luta para justificar a existência das gravadoras, em uma época em que qualquer pessoa grava um disco com qualidade digital no conforto de casa. Assim como a indústria da música ainda não descobriu como convencer o internauta a pagar US$ 0.99 por uma música que está disponível gratuitamente na web, o mercado editorial também vai suar para te convencer a comprar um livro digital que não vai (por enquanto) poder ser emprestado.

De uma coisa eu tenho certeza. Não nasci com tendências cleptomaníacas, só quero que o meu livro digital seja tão móvel quanto os meus livros em papel. Afinal, não foi para isso que eles vieram?

Blogueiros: a nova imprensa especializada em não se especializar

Outro dia me deparei com um exemplar de "Beatriz e Virgílio", do canadense Yann Martel, à venda por R$ 5 reais em frente à estação Carioca - olha a dica, hein, a feirinha continua lá, mas é preciso garimpar. Comprei, já que estava na onda dos "novos escritores", e fui para casa. Antes de começar a leitura - que sempre leva a uma resenha publicada em algum dos blogs parceiros - me deparei com o carimbo "Imprensa", da editora, o que significava que o livro era, na verdade, destinado a algum jornalista, mas que nunca foi resenhado. Sim, pelas condições do livro, era seguro dizer que ele nunca foi lido, gerando custo desnecessário à editora e peso desnecessário à estante do jornalista (que rapidamente se livrou dele com o primeiro sebo que encontrou, o de rua, na Carioca).

As razões do jornalista podiam ser várias: o lançamento do padre Marcelo Rossi, que mereceu mais espaço no jornal, o fato do autor não ser nada conhecido (pelo menos até o Prosa e Verso se dar ao luxo de falar brevemente sobre ele), o fato do livro ser fino (sim, as pessoas ainda julgam o livro pelo número de páginas, mais do que pela capa), ou simplesmente a quantidade absurda de livros gratuitos que os jornalistas recebem diariamente na redação.

Ah... que saudade dos livros gratuitos de resenhar. Se ao menos isso acontecesse com blogs também...

Peraí. Mas acontece!

Já que os jornalistas "de verdade" não conseguem dar conta ou não têm interesse em resenhar livros que as editoras precisam fazer conhecer (seja porque ainda não chegaram ao boca a boca, seja porque realmente encalharam desde o lançamento), os blogueiros estão aí para isso. E para as editoras que já perceberam que as mídias sociais são o caminho do futuro para a propaganda (quase) gratuita.

Blogueiros têm mais tempo e mais interesse em ler os lançamentos das editoras. Blogueiros têm credibilidade entre os leitores assíduos, tanto porque fazem o trabalho bem apesar de faltar a base técnica do jornalismo, quanto porque dão uma visão "de igual para igual" do livro. Muitas pessoas não querem a visão de um especialista em literatura, querem apenas saber se um livro é ou não digno de seu tempo.

Como a interação entre o público e as empresas ainda engatinha, principalmente no mercado editorial, algumas pisadas na bola ainda podem ser vistas nos blogs mais movimentados. Poucas são as editoras que incluem os clássicos ou os bestsellers de peso na lista de livros enviados a blogueiros. Lá, por outro lado, é onde o visitante vai encontrar as últimas notícias do mundo dos vampiros - os seres que tomaram de assalto o mundo literários dos bruxos. A ideia é que o público alvo dessas páginas são os pré-adolescentes, mas aí cabe uma ressalva. Cresce cada vez mais a procura dos mais velhos por dicas de leitura na internet, e crescerá ainda mais quanto mais popularizados estiverem os livros virtuais.

O canal de debate já existe, cabe aprender a utilizar e valorizar esses novos jornalistas "de mentira" que, sem a pretensão do bom texto e do conhecimento literário acadêmico, podem indicar ao leitor o caminho para as prateleiras mais divertidas.

domingo, 15 de maio de 2011

"O desafio" novamente e suas razões [novamente!]

Este ano, para saber exatamente quanto eu lia por ano, entrei em um desafio impulsionado pelo GoodReads, minha rede social de leitura preferida. Não fui a única. Outras pessoas que também gostam de ler entraram na minha onda. Achei que um desafio assim, assim como a minha vontade de ler, comprar livros e acompanhar os lançamentos das editoras em 2011 era passível de explicações. Eu leio porque é bom ler. Preciso de um motivo?

Aparentemente sim. Embora comprar roupas e maquiagem tenham sua razão de ser no extrato bancário de qualquer menina, [aparentemente] não acontece o mesmo com livros. Eu não deveria ter ficado surpresa com isso, tendo em vista que a média de livros lidos no Brasil é de menos de cinco por ano, isso contando somente os que se dizem leitores. E isso tendo em conta as mentiras que as pessoas dizem aos censores. Mas fiquei, por isso vamos explicar desde o início porque resolvi ler ao menos 50 livros em 2011 - Que eu tive que passar para cá, já que eu resolvi criar outra casa virtual!

Em poucas palavras, però, porque ainda há esperança nesse mundo e eu não quero frustrar essas boas almas. Eu sou jornalistas e jornalistas deveriam ler constantemente. Do tipo: acabou um, quero outro. Do tipo: o que a editora tal está lançando hoje. Eu sou alfabetizada, e desde então fui picada pelo inseto malvado da leitura - I can't help it. Eu tive uma família que nunca economizou com livros, e seria extremamente ingrato da minha parte começar isso agora. Então, queridos, 50 livros (pelo menos) serão lidos até o fim do ano. Ao menos um e-reader será comprado e repleto de livros até o fim do ano. E se você ainda não foi picado pelo monstrinho medonho da leitura... Algo pode estar errado em você!

Até agora, os lidos e resenhados (nos links!) foram:

JANEIRO
1) Aprendiz de cozinheiro - Bob Spitz
2) O guia do mochileiro das galáxias (vol.1) - Douglas Adams
3) O guia do mochileiro das galáxias (vol.2) - Douglas Adams
4) O guia do mochileiro das galáxias (vol.3) - Douglas Adams
5) O guia do mochileiro das galáxias (vol.4) - Douglas Adams
6) O guia do mochileiro das galáxias (vol.5) - Douglas Adams
7) A menina que não sabia ler - John Harding
8) A garota do pé de vidro - Ali Shaw
9) A revolução dos bichos - George Orwell
10) Pequena Abelha - Chris Cleave
11) Palácio de Inverno - John Boyne

FEVEREIRO
12) Nunca fui primeira dama - Wendy Guerra
13) A vida de Pi - Yann Martel
14) Dom Casmurro - Machado de Assis
15) On the road - Jack Kerouac

MARÇO
16) Melancia - Marian Keyes
17) Renato Russo: O Trovador Solitário - Arthur Dapieve
18) Memórias de uma gueixa - Arthur Golden
19) Hell's Angels - Hunter S. Thompson
20) Precisamos falar sobre Kevin - Lionel Shriver
21) Beatriz e Virgílio - Yann Martel

ABRIL
22) The sweet life in Paris - David Lebovitz
23) The sharper your knife, the less you cry - Kathleen Flinn

MAIO
24) Clarice, - Benjamin Moser
25) Persuasion - Jane Austen
26) Quarto - Emma Donoghue

JUNHO
27) Playing with fire - Gordon Ramsay
28) Water for elephants - Sara Gruen
29) A solidão dos números primos - Paolo Giordano
30) O senhor das moscas - William Golding

JULHO
31) O misterioso caso de Styles - Agatha Christie
32) Mil dias em Veneza - Marlena de Blasi
33) Paris é uma festa - Ernest Hemingway
34) O inimigo secreto - Agatha Christie
35) Os três mosqueteiros - Alexandre Dumas

AGOSTO
36) Um dia - David Nichols
37) Se eu fechar meus olhos agora - Edney Silvestre
38) Feliz ano velho - Marcelo Rubens Paiva

SETEMBRO
39) Como funciona a ficção - James Wood
40)Travessuras da menina má - Mário Vargas Llosa

OUTUBRO
41) Assassinato no campo de golfe - Agatha Christie
42) Poirot investiga - Agatha Christie
43) Marina - Carlos Ruiz Zafón

NOVEMBRO
44) Reparação - Ian McEwan
45) A felicidade é fácil - Edney Silvestre
46) Ao ponto - Anthony Bourdain
47) Beatriz - Cristóvão Tezza

DEZEMBRO
48) O guardião de livros - Cristina Norton
49) Amor sem fim - Ian McEwan
50) As esganadas - Jô Soares [lendo]


Só para explicar: a maioria das resenhas ainda vão diretamente para o Histórias para Ler, mas eu linko elas aqui! Outras vão para o Raiz de Gengibre, dependendo do assunto!

Kindle: ter ou não ter?

Que eu sou apaixonada pela nova era digital e que não vou sentir a menor falta do cheiro do livro, não é novidade - primeiro porque eu sou alérgica, segundo porque os livros vão continuar por aí, lindões na sua estante, não se preocupe, caro apocalíptico! Entretanto, como costuma faltar mês no fim do dinheiro, ponderar é preciso na hora de escolher o seu leitor digital. Ainda não me inteirei nesse mundo, mas pretendo, então seguem as minhas últimas descobertas e agonias.

Atualmente tenho um Positivo. Apesar do que tenho ouvido por aí, acho que a Positivo não fez feio no mercado nacional de e-readers, ganhando de longe, por exemplo, da Gato Sabido - é só brincar um pouquinho com os dois para perceber. Como a gente nunca se contenta, estou de olho no Kindle por algumas razões, então é hora de ponderar.

O Positivo usa o sistema da Saraiva para compra de livros e, vamos combinar, por mais que eu seja fã da loja de carteirinha (literalmente), ainda estamos pobríssimos em catálogo de livros digitais pagos, que dirá de livros digitais gratuitos. O sistema da Saraiva também não é lá tão bom como o do Kindle. Aliás, você pode baixar o Kindle Reader para o seu PC, já que muita gente ainda lê no próprio computador (além, claro, de poder baixar o aplicativo para iPad, iPod, iPhone, Blackberry, Android e outros). O aplicativo é gratuito e, com uma conta na Amazon, você pode baixar todos os livros gratuitos disponíveis e ainda comprar os que tiver coragem.

O preço é outro ponto a favor da Amazon. Se você não quiser entrar para a lista dos bandidos sem alma (que é como as editoras vão te ver ao baixar um arquivo PDF na internet - assunto para outro post) e estiver realmente disposto a comprar seus livros online, vai pagar preços absurdos nas lojas brasileiras. O último exemplo absurdo que eu encontrei foi o fato do bestseller "Comer, Rezar, Amar", de Elizabeth Gilbert, custar cerca de 32 reais na versão digital da Saraiva e 26 reais na versão em papel da mesma loja. Alguém me explica onde foi parar a coerência? Na Amazon, o mesmo livro sai em papel por US$ 9,90, equivalente a 16 reais, dez a menos do que comprando em terras tupiniquins. Mais uma vez, coerência?

Isso sem contar que o Kindle quebra totalmente o tabu do frete da Amazon, que costuma ser absurdamente caro (já que eles cobram tanto um frete por compra quanto um frete por item). O livro digital chega ao seu Kindle, PC, iPhone ou qualquer outro dispositivo em menos de 60 segundos.

Coisa genial que eu descobri esta semana e que dá outro banho nos brasileiros: o Kindle Reader trabalha "nas nuvens", ou seja, hospeda os seus livros em cloud, por isso, ao abrir o Kindle Reader em outro dispositivo, como seu iPad (ou o iPad emprestado do seu coleguinha), basta acessar a sua conta Amazon para ler os seus livros. E melhor, de onde parou.

Mas a Amazon come criancinhas e bloqueia os seus livros sob o nome cruel e mau de DRM, certo? Certo. Os livros da Amazon possuem um cadeado do demo chamado DRM, que não deixa que ele seja lido por um dispositivo sem Kindle Reader. But then again, a loja da Saraiva também vende livros bloqueados e nós ainda gostamos deles! Sim, o problema é que você não vai conseguir ler livros deles no seu Kindle, somente os da Amazon, os livres (sem DRM) e os desbloqueados (o que vai te colocar na lista dos bandidos sem alma).

Como a Amazon ganhou nos outros pontos, a única coisa que iria me impedir de comprar um Kindle agora (além da minha conta bancária) é o fato de não poder comprar livros em português, já que o acervo de livros brasileiros na Amazon é ainda mais precário (óbvio) que o nosso. Além disso, nem todos os livros disponíveis para os americanos estão disponíveis também para os reles Latin America and Caribean. Ainda. Ainda, porque eles estão prestes a desembarcar por aqui, chegando ao Patropi até março e trazendo com eles milhares de livros lindões e, consequentemente, pressionando as editoras a liberarem mais ebooks para serem vendidos na futura amazon.com.br.

Que os deuses da leitura digital te ouçam!

Marca Livros

O mercado editorial me pegou de jeito e, agora, a minha febre de criar blogs teve mais uma razão para continuar existindo. O meu blog pessoal já tinha virado a casaca e deixado de ser "sobre o nada" para falar sobre livros. Acabou que não se falava coisa nenhuma além da lista dos lidos. Por isso, criei um Tumblr, para descobrir e a tal nova ferramenta não era nada do que eu imaginava - muito melhor para falar sozinha e trocar figurinhas (literalmente) do que para organizar ideias. E foi por isso que voltei para o Blogger.

O Tumblr continua existindo como um "favoritos de RSS", ou seja, para catalogar todas as notícias que eu acho interessantes sobre o mercado editoral. No entanto, para o desespero dos amigos (juro que não vou obrigar ninguém a comentar, votar, ou nada do tipo nesse aqui), nasce o Marca Livros - para acompanhar as novidades editoriais na era do digital (e que era divertida) e as minhas próprias novidades dentro dela. Vou falar mal de mais um monte de coisa. Aliás, preparem-se, reclamar é comigo mesmo!